O som agudo de um grito no silêncio se identifica com o tom agudo da voz feminina e, ao longo da história, causa angústia e mal-estar. Mesmo desde quando o grito de pedido de ajuda passou a ser o grito das mulheres que se percebem no coletivo, a sociedade parece não querer ouvir.

Os movimentos feministas se fortaleceram na segunda metade do século XX, registrando mudanças, mas os avanços no enfrentamento do problema não são muito satisfatórios. Nossa forte herança da tradição judaico-cristã construiu no contexto da família a submissão da mulher ao homem, sendo seu papel desenhado pela função de assegurar ao homem sua descendência. É muito recente a escuta do clamor dessas vozes por tanto tempo silenciadas.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabeleceu em 1948 que “todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos”, fortalecendo os movimentos em que a mulher buscava alcançar um novo protagonismo na sociedade ocidental. A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, reproduz a assertiva de 1948 e a Lei 11 340, que conhecemos como Lei Maria da Penha, de 2006, se torna um instrumento que, entre outras situações, coíbe a violência doméstica.

Neste século, a Declaração do Milênio das Nações Unidas, reafirma, entre outros, os valores fundamentais da liberdade e da igualdade, fortalecendo a mulher em sua dignidade e a protegendo da violência de gênero em seus diversos aspectos. No contexto das práticas de violência exercida sobre a mulher temos a questão do assédio, que fere a dignidade humana em todas as suas formas de manifestação.

O silenciar das mulheres tem uma face muito presente na realidade brasileira: o feminicídio. Somente em 2023 foi aprovado o fim da tese de defesa da honra, que deixou de ser usada como atenuante da violência doméstica, argumento que tinha muita força nos ambientes mais conservadores da sociedade brasileira.

O texto do artigo se desenvolve nesse breve percurso de estudos das questões da mulher, buscando atentar para a história da civilização ocidental, de herança judaico-cristã, que nos revela o percurso da mulher silenciada, e a presença de movimentos coletivos mais vigorosos para alcançar sua identidade como pessoa em fins do século XIX e ao longo do século XX. Há espaços conquistados, mas há ainda um silêncio imposto, gerado por questões da história, do poder e do Estado. “Constatamos que as mulheres ainda vivem numa sociedade que muitas vezes não as respeita, as discrimina e silencia apenas por serem mulheres.”.